quarta-feira, 1 de julho de 2009

HIPERATIVIDADE

O Que é a Hiperatividade?
A hiperatividade, denominada na medicina de transtorno do déficit de atenção e significa uma atividade excessiva ou patológica, pode afetar crianças, adolescentes e até mesmo alguns adultos. Em 1918 nos Estados Unidos ocorreu uma epidemia de encefalite letárgica, que seria uma infecção cerebral causada por vírus e caracterizada por apatia e sonolência que causou lesões anatômicas no cérebro dos sobreviventes fazendo com que tivessem inatenção e hiperatividade. Passou-se então, a procurar lesões cerebrais em todas as crianças possuidoras desses sintomas, foi quando perceberam que não havia nelas alterações orgânicas que justificassem esse comportamento, mudando o conceito de lesão para disfunção, isto é, alterações mínimas nas funções cerebrais, com influencias sobre o comportamento das crianças. Os sintomas variam de brandos a graves e podem incluir problemas de linguagem, memória e habilidades motoras. Embora a criança hiperativa tenha muitas vezes uma inteligência normal ou acima da média, o estado é caracterizado por problemas de aprendizado e comportamento. Os professores e pais da criança hiperativa devem saber lidar com a dificuldade de atenção e concentração, problemas de aprendizado, distúrbios do comportamento, instabilidade e hiperatividade.
O verdadeiro comportamento hiperativo interfere na vida familiar, escolar e social da criança. O fator que mais caracteriza do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é a falta de capacidade do indivíduo se concentrar e prestar atenção no que está sendo apresentado a ele sem se distrair com qualquer outro estímulo. Aparentemente a pessoa com TDAH sente uma necessidade extrema de prestar atenção em estímulos novos e muitas vezes irrelevantes. Pessoas com TDAH passam a impressão que nunca conseguem completar nenhuma tarefa iniciada, pois assim que começam uma nova empreitada facilmente se distraem e passam a fazer outra coisa e assim sucessivamente deixando um rol de tarefas incompletas assim que elas vão passando de uma para outra. Estas pessoas também apresentam uma dificuldade de memorizar coisas e se lembrar de compromissos, encontros, onde deixou certos objetos. Como são incapazes de filtrar estímulos, são facilmente distraídas. Essas crianças podem falar muito, alto demais e em momentos inoportunos. As crianças hiperativas estão sempre em movimento, sempre fazendo algo e são incapazes de ficar quietas. São impulsivas. Não param para olhar ou ouvir. Devido à sua energia, curiosidade e necessidade de explorar são propensas a se machucar, a quebrar e danificar coisas. As crianças hiperativas toleram pouco as frustrações. Elas discutem com os pais, professores, adultos e amigos. Fazem birras e seu humor se altera rapidamente. Essas crianças também tendem a ser muito agarradas às pessoas. Precisam de muita atenção e tranqüilização. É importante para os pais perceberem que as crianças hiperativas entenderam as regras, instruções e expectativas sociais. O problema é que elas têm dificuldade em obedecê-las. Esses comportamentos são acidentais e não propositais.
Para a criança hiperativa e sua família, uma ida a um parque de diversão ou supermercado pode ser desastrosa. Há simplesmente muita coisa acontecendo, muito estímulo ao mesmo tempo. Devido à sua incapacidade de concentrar-se e ao constante bombardeamento de estímulos, a criança hiperativa pode ficar estressada.
A criança hiperativa pode ter muitos problemas. Apesar da "dificuldade de aprendizado", essa criança é geralmente muito inteligente. Sabe que determinados comportamentos não são aceitáveis. Mas, apesar do desejo de agradar e de ser educada e contida, a criança hiperativa não consegue se controlar. Pode ser frustrada, desanimada e envergonhada. Ela sabe que é inteligente, mas não consegue desacelerar o sistema nervoso, a ponto de utilizar o potencial mental necessário para concluir uma tarefa.
A criança hiperativa muitas vezes se sente isolada e segregada dos colegas, mas não entende por que é tão diferente. Fica perturbada com suas próprias incapacidades. Sem conseguir concluir as tarefas normais de uma criança na escola, no playground ou em casa, a criança hiperativa pode sofrer de estresse, tristeza e baixa auto-estima. Um especialista em comportamento infantil pode ajudar a distinguir entre a criança normalmente ativa e enérgica e a criança realmente hiperativa. As crianças até mesmo as menores podem correr, brincar e agitar-se felizes durante horas sem cochilar, dormir ou demonstrar qualquer cansaço. Para garantir que a criança realmente hiperativa seja tratada adequadamente e evitar o tratamento inadequado de uma criança normalmente ativa é importante que a criança receba um diagnóstico preciso. Durante a primeira ou a segunda consulta médica, a criança hiperativa pode se comportar de forma quieta e educada. Sabendo o que é esperado, pode se transformar em uma criança "modelo". É preciso descrever, de forma precisa e objetiva, o comportamento da criança em casa e nas atividades sociais. Se ela está encontrando dificuldade na escola, peça ao professor que converse com o médico ou envie-lhe um relatório por escrito. Pode ser preciso várias consultas antes que o comportamento hiperativo torne-se aparente. Os pais da criança hiperativa merecem muita consideração. É preciso muita paciência e vigor para amar e apoiar a criança hiperativa em todos os desafios e frustrações inerentes à doença. Os pais da criança hiperativa estão sempre preocupados e atentos, sempre "em alerta". Conseqüentemente, é fácil sentirem-se cansados, abatidos e frustrados, às vezes. É de importância vital para os pais da criança hiperativa serem bons consigo mesmos, descansar quando apropriado, além de buscar e aceitar o apoio para eles e para o filho.

Tratamento Convencional

Antes de qualquer tratamento, um exame físico e mental deve ser feito para descartar outras causas para o comportamento do indivíduo, o tratamento é primordialmente medicamentoso. A psicoterapia não é uma alternativa a ser tentada antes do uso de medicamentos. Contudo, tratamentos que integram o uso de medicamentos com terapias comportamentais apresentam resultados que melhoram significativamente a qualidade de vida de quem tem este transtorno. No caso de crianças e adolescentes, há programas de orientação e treinamento para pais e professores. Existem propostas muito interessantes de reestruturação do ambiente escolar e doméstico para crianças com TDAH. Existem também várias recomendações que podem ser fornecidas ao paciente, de acordo com cada caso em particular, que amenizam suas dificuldades no dia-a-dia (tais como esquecimentos, impulsividade, etc.). No caso de adultos casados, pode ser necessária a participação do cônjuge no tratamento.

Tratamento Farmacológico

Os medicamentos mais utilizados são: Estimulantes, Cafeína, Antidepressivos Tricíclicos, Antidepressivos ISRS, Antipsicóticos e outros.

Alguns Fatos Sobre a Hiperatividade

Embora muitos pais de crianças enérgicas perguntem aos médicos sobre a hiperatividade, ela não é problema comum. De acordo com um artigo publicado no British Journal of Psychiatry, apenas 3% das crianças são realmente diagnosticadas com a desordem do déficit de atenção. A hiperatividade é dez vezes mais comum nos meninos do que nas meninas. A causa ou causas exatas da hiperatividade são desconhecidas. A comunidade médica teoriza que a desordem pode ser resultado de fatores genéticos; desequilíbrio químico; lesão ou doença na hora do parto ou depois do parto; ou um defeito no cérebro ou sistema nervoso central, resultando no mau funcionamento do mecanismo responsável pelo controle das capacidades de atenção e filtragem de estímulos externos. Há muita curiosidade a este respeito e tentativas de conhecer o TDAH.
Ao mesmo tempo, têm aumentado o número de casos de auto-diagnóstico: com o aumento da divulgação sobre déficit de atenção, há um maior risco de pessoas erroneamente diagnosticarem a si ou a familiares e colegas como portadoras do transtorno. Muitos enganos são cometidos, quando se fala em TDAH, inclusive por profissionais da área de educação e da saúde, que associam o TDAH a qualquer demonstração de hiperatividade ou falta de atenção, por falta de conhecimento específico. O TDAH não é simplesmente um problema de desatenção em sala de aula ou no trabalho. A desatenção e a hiperatividade fazem parte de um conjunto de padrões de comportamento que, usualmente, tem conseqüências que a longo prazo trazem sérios prejuízos.
Em termos orgânicos, o TDAH manifesta-se como uma hipofunção das áreas pré-frontais do córtex cerebral. Quando falamos de funcionamento do cérebro, fazemos referência a descargas elétricas que são a base da transmissão de informação nervosa entre
os neurônios. Estas descargas elétricas são amplificadas e decodificadas por aparelhos de EEG – eletroencefalografia. Um EEG permite identificar padrões de ondas cerebrais, dentre eles a freqüência das ondas, medidas em ciclos por segundo. Ondas rápidas são indicadoras de áreas com alta freqüência de descargas elétricas e transmissão nervosa; o contrário vale para as ondas lentas. A principal característica neurológica do TDAH é, então, um excesso de atividade de ondas lentas no córtex pré-frontal. O córtex pré-frontal é responsável pelas funções de controle voluntário da atenção, planejamento, julgamento e tomada de decisões, auto-controle, sensibilidade a conseqüências de longo prazo e controle motor fino. Quando o pré-frontal apresenta hipofunção, com excesso de ondas lentas, ele não envia os sinais necessários para que outras áreas do cérebro possam funcionar adequadamente.
Outro fator importante é que primeiramente devemos ter a consciência que a TDAH limita a capacidade de aquisição rápida da criança. Deve trabalhar então nestas crianças é o seu lado sensível tanto emocional como criativa. As crianças com TDAH tem um potencial enorme para desenvolver estas capacidades. Antes de iniciar o trabalho devemos saber como realizar a estimulação nelas.
As condições do mundo atual levam a uma ansiedade pela alfabetização que em alguns casos tem se realizado a partir dos 3 anos de idade, faz com que as crianças deixem de desenvolver algumas outras atividades fundamentais que serviriam como suporte para uma alfabetização futura, ampliando a base para a aquisição. Entre estas características está o esquema corporal, pois sabemos que o corpo de uma criança pode lhe proporcionar prazer além de ser uma fonte receptiva e transmissora de informações externas e internas. A criança vai desenvolvendo o seu esquema corporal através da superação de obstáculos e treinamento dos movimentos indo de movimentos grosseiros até a coordenação motora fina.
O corpo sensivelmente capta e percebe sensorialmente o mundo. Essa porta de entrada possibilitará para a criança criar critérios qualitativos e discriminativos que serão fundamentais para a sua percepção espacial, social e corporal. Nas escolas de hoje, o trabalho corporal resume-se às aulas de educação física que podem levar estas crianças à fadiga e conseqüente desinteresse em desenvolver estas habilidades. O trabalho corporal não deve ser limitado apenas à atividade esportiva, trabalhos em grupos, introdução de regras, etc. Ele é sensível, é dramático, é o processo criativo, que se apresenta como um facilitador para obter a atenção da criança com TDAH. Através do corpo sensibilizamos outras áreas. O esquema corporal de uma criança com TDAH se vê comprometido por disfunções de inibição e controle.
Uma intervenção por parte do educador pode ser levada para o lado do experimento sensorial. Sabe-se que através do corpo podemos sensibilizar outras áreas. Um exemplo de trabalho com o corpo e que busca através de outro estímulo mais concreto fazer com que a criança experimente sensações corpóreas: Um trabalho com argila pode não buscar apenas a concretização de algo pensado. Existe uma parte sensível que se utiliza do tato. Fazendo a criança perceber o material com que trabalha. O professor ao estimular, valorizar suas descobertas pode introduzir conceitos discriminativos entre outros devido à sensibilização (que pode ser chamada de "aquecimento") que a criança vivenciou. Com isto abre-se novos caminhos para a introdução e estimulação de outras áreas.
Todo este universo é precioso para a criança, pois nele terá liberdade para criar. A criança com TDAH tem aí um recurso que seguramente terá sua atenção durante algum tempo. Muitas vezes nos perguntamos se o processo é a segurança da atenção, ou o produto é que mostra o grau de atenção que a criança designou para a atividade.
Como tudo, o processo pedagógico é progressivo. Ao valorizar o processo gerador de um produto estamos abrindo o caminho para uma evolução que exige paciência por parte do educador. A criança com TDAH ao trabalhar com suas habilidades sensíveis pode usar a sua percepção à estímulos para desenvolver um produto do processo criativo. Como sabemos, o mais difícil para uma criança com TDAH é finalizar uma tarefa, pois assim que começa uma já está prestando atenção em outra. Tendo esta finalidade como uma necessidade por um produto na escola infantil, estamos virando a cara para o processo criativo. A cada pensamento, uma forma, um gesto, uma ação, enfim, o processo.
Ao valorizarmos este processo enriquecemos o intelecto da criança e assim, cada vez mais está disposta a criar. Imaginemos se fosse criada uma sala especial para uma criança com TDAH, branca, sem interferências ou estímulos senão aqueles já planejados pelo educador. Estaríamos afastando a possibilidade da criança de entrar em contato com o mundo real, composto de estímulos que ajudariam essa criança a formar conceitos grupais desenvolvendo o seu intelecto capacitado para interagir com o meio.
Acreditamos que lidando com a criança com TDAH de uma maneira que a atitude criativa possa ser estimulada e transmitida estaremos fazendo com que a criança se integre melhor ao meio e evite as decepções causadas pela desinformação alheia. É preciso conscientização, não só sobre a problemática em si, mas sobre a predisposição que cada criança tem em cada área do conhecimento. Para isto devemos nos tornar mais sensíveis com visão ampla para um mundo dinâmico e mutável que é o mundo infantil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário